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Crítica do filme: Colossal

Drama, comédia, monstro e robô. Esses são os elementos principais de Colossal. Parece meio trash, não? O ponto é que de fato o filme possui uma pitada desse gênero, só que executado de maneira mais refinada e com investimento de superprodução. O resultado é um longa que proporciona muitas surpresas agradáveis.

A primeira cena do filme deixa claro o tom que será adotado ao longo de toda a narrativa. Uma garota sul coreana corre em um parque à procura de sua boneca quando de repente ela avista um monstro gigantesco por entre os prédios de Seul. 25 anos depois somos levados aos Estados Unidos, principal cenário da história. Após uma discussão com seu namorado Tim (Dan Stevens), Gloria ( Anne Hathaway) retorna a sua cidade natal com o intuito de por as coisas no lugar. É lá que algumas questões do passado são reascendidas e eventos estranhos acontecem.

Típica heroína desajustada, Gloria possui uma série de problemas, como a dependência alcoólica, um término de relacionamento mal resolvido e uma personalidade meio atrapalhada. Mas é a figura de Oscar (Jason Sudeikis), um colega de infância, que irá ajudá-la na tentativa de se restabelecer. Este demonstrará um interesse que parece ir além da simples “mão amiga”, o que desencadeará alguns conflitos importantes na trama.

Mas em que parte entram o monstro e o robô em todo esse conflito existencial? Gloria se dará conta de que, por algum motivo, um gigantesco e extraordinário monstro que vem atacando a capital sul coreana é controlado por ela própria. É como se as ações dela refletissem involuntariamente nas ações da criatura. A história fica mais complicada quando ela descobre que Oscar é capaz de controlar um robô, da mesma forma. 

A sacada do longa esta justamente no tratamento que dá aos absurdos do enredo. Se por um lado, a história está calcada em uma premissa fantasiosa, por outro, ela investe em uma abordagem despretensiosa e até intimista. Desse modo, a trama que envolve as criaturas fantásticas, apesar de chamar bastante atenção, não é o destaque isolado da produção. Estranhamente, funciona em paralelo com uma série de outras questões emocionais vividas pela protagonista.

Assim como em determinado momento a personagem Gloria sugere que o bar de Oscar poderia utilizar um espaço inativo há anos por ser meio anacrônico, porque seria “irônico”, o filme possui essa mesma característica. Muitas piadas e situações, e até mesmo a concepção paradoxal da obra como um todo, possuem um tom sarcástico. Afinal de contas, é preciso muita coragem para misturar tantos elementos aparentemente aleatórios, fator com que o diretor e roteirista Nacho Vigalondo soube lidar muito bem.

O fato de a protagonista não acabar caindo num triângulo (ou quadrado) amoroso ou depender de um romance para dar movimento à narrativa é mais um ponto positivo, ainda mais com as ações de determinados personagens no último ato do filme. Anne Hathaway e Jason Sudeikis compõem uma dobradinha ótima, e contribuem para que não só as cenas dramáticas funcionem bem, mas também os momentos mais que exigem mais comicidade.

Colossal consegue flertar com equilíbrio as tramas e sub-tramas, assim como a comédia, fantasia e drama. O resultado é um filme descolado e irônico, que não se leva muito a sério, mas que nem por isso negligencia a construção de personagens e a coerência da narrativa. Além disso, serve muito bem como filme de entretenimento, pela sua faceta pop/comercial, e ao mesmo tempo enxerta nas suas entrelinhas discussões bastante válidas.

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