Crítica do Filme “Com Amor, Simon”

Com Amor, Simon seria só mais uma típica comédia adolescente americana se não fosse pelo fato de que o herói, Simon, é gay. Todos os elementos estão presentes: eventos escolares, festas, bebidas, intrigas amorosas e a clássica crise existencial que todo mundo passa nessa idade, só que Simon também precisa lidar com esse grande secredo que o impede de viver uma vida “normal”. O filme faz história como a primeira comédia romântica direcionada a adolescentes onde o protagonista é gay, e a produção certamente merece aplausos por isso.

A intenção da história é louvável e preenche uma importante lacuna de representação no cinema, porém o longa não deixa de ser uma comédia adolescente bastante genérica e um tanto vazia. Simon (Nick Robinson) vive uma vida perfeita e totalmente sem conflitos no seu último ano do ensino médio – com pais incríveis e compreensivos que se amam e velhos amigos próximos que estão sempre dispostos a tomar um café e jogar conversa fora. O adolescente está esperarando ir para faculdade (quando, nos EUA, é costumeiro que a pessoa mude de cidade, ou até de estado para morar sozinha) para lidar com o “problema” de ser gay, só que um post no blog de fofocas do seu colégio muda drasticamente os seus planos. Algum aluno da sua escola, que se identifica apenas como “Blue”, se “assume” gay e Simon, empolgado por compartilhar o que ele sente com alguém próximo, começa uma conversa por e-mails com essa pessoa. Ao longo das trocas de mensagens, o protagonista visualiza um possível romance com Blue e fica cada vez mais curioso sobre a verdadeira identidade do seu correspondente misterioso.

A trama se resume a busca de Simon por Blue, onde, durante todo o filme, ele imagina que pode ser um colega de classe diferente, fantasiando as possibilidades e colocando distintas vozes nas palavras dos e-mails que ele recebe. Para acrescentar um pouco mais de tensão ao conflito, Simon é chantageado por um conhecido dentro da escola que descobre os seus e-mails com Blue, o que o leva a mentir e a manipular os sentimentos do seu grupo de amigos, mas tudo isso acontece de uma forma consideravelmente leve e as consequências nunca parecem ser muito sérias.

O mundo de Com Amor, Simon é confortável demais, meio “careta” e fortemente teenager, como algo que você encontraria em alguma série da Nickelodeon ou do Disney Channel . O filme é tão meio-oeste-branco-classe média-americano genérico que é fácil de esquecer que o romance central é homossexual, e fora desses convencionais padrões. O diretor, Greg Berlanti, produziu e escreveu várias episódios de séries de televisão teen, desde Dawson’s Creek (1998-2003), até exemplos mais recentes como Riverdale (2017), baseada na série de quadrinhos para adolescentes, Archie Comics, ou as séries de heróis da DC, como Arrow (2012), The Flash (2014) e Supergirl (2015). Não é difícil concluir que Com Amor, Simon, que também foi adaptado do livro para jovens adultos, Simon vs. A Agenda Homo Sapiens de Becky Albertalli, compartilha de vários elementos desse universo televisivo, voltado para jovens, de Greg Berlanti.

O incontestável carisma de Nick Robinson, ator que vive o protagonista, não consegue segurar um roteiro cheio de referências forçadas e o mundo plástico e sem coração de Com Amor, Simon. Muito críticos compararam o filme a clássicos de John Hughes como Curtindo a Vida Adoidado (1986) ou Clube dos Cinco (1985) e eles não poderiam estar mais enganados – os filmes de Hughes possuem uma honestidade humana que passa longe de Com Amor, Simon e a sua coleção de personagens desmotivados e sem alma. Enquanto Clube dos Cinco, por exemplo, é um filme que até hoje, encanta e emociona graças à veracidade com a qual os adolescentes da época foram retratados, com problemas bastante reais que potencialmente se desdobram em várias camadas, Com Amor, Simon é no máximo um filme bonitinho em 2018, que talvez seja lembrado só pelo pioneirismo do seu tema central. Que o filme tenha servido, pelo menos, para abrir portas na indústria, já que a qualidade da produção em si definitivamente não é o ponto forte.

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